quarta-feira, 10 de junho de 2009

"A Mulher Invisível"


por Henrique Piotto

Já que o blogue é dos anos 90/00 e que acabei de chegar do cinema, resolvi escrever sobre esse filme que no momento considero insuperável. Geralmente, quando o filme é bom, chego encantado com o filme. Depois começo a ver nele vários defeitos, e como é melhor falar bem das coisas, a gente fica bem com todo mundo e tal...
Um filme com formato hollywoodianozinho, feito no Brasil? Por que gostei tanto de "A mulher invisível" com Selton Melo e Luana Piovani? Porque é feito no Brasil! "A mulher invisível" tem, ao mesmo tempo, um tom comercial que remete aos filmes da California, esses de comédia romantica feminino, mas com a fórmula aplicada na história de um homem. O filme consegue ser engraçado, ter uma história de amor "lindaaaa" que agrada ao gênero feminino e ser uma análise profunda do cérebro masculino. É um filme de homem. Não daqueles "filmes de homem", esteriotipados, que tem muita porrada e mulheres gostosas, ou melhor, até tem um ou dois socos, e alguns tapinhas. Tem também mulher gostosa semi-nua, e mulher tipo Luana Piovani e a não menos boa em vários sentidos, Maria Manoella. É um filme que fala da relação do homem com o melhor amigo, de infelicidade na profissão, das inúmeras mulheres, enfim eeeesses problemas da vida do homem moderno (e eu achando que to escrevendo uma resenha pra Playboy né). Depois de uma desilusão amorosa, Pedro Albuquerque (Selton Melo) é um funcionário público de sucesso e é também um romântico, daqueles clássicos. Ele sonha em achar a mulher ideal formar família e ter filhos com ela. Mas a mulher dele não queria. Alem disso eles tinham também uma vizinha que escutava toda sua vida pessoal da parede do apartamento ao lado, enquanto o marido assistia TV na sala (citei isso pela cena genial de comparação entre a TV e a vida pessoal dos vizinhos). Um dia "recolhido do mundo" trancado por semanas em seu apartamento após uma desilusão amorosa, que lhe trouxe inúmeros problemas pessoais, Pedro conhece sua nova vizinha, uma mulher solteira bem-humorada, sexy, linda e sexomaniaca que transa no primeiro encontro. Uma mulher que vive arrumando a casa vestida apenas com uma lingerie, adora futebol , e aposta peças de roupa em cada penalti batido. A tal vizinha sente ciúmes, mas não liga quando ele vai pra balada e beija um casal de lesbicas gosotosas. A tal mulher só pode ser uma mulher inventada, uma mulher invisível. Mas será mesmo? Essa mulher exite? Ou a mulher perfeita é aquela que combina, e gosta do homem?(Sou romantico mesmo...) Vale a pena conferir mais essa ótima opção do cinema brasileiro, uma boa combinação de humor inteligente com roteiro inteligente, mas que diferentemente de "O cheiro do ralo" (outro filme genial estrelado pelo Selton, que também tem as qualidades do Mulher invisível) que é muito abstrato, é um filme " de homem", mas que todo mundo gosta porque tem um final feliz e entende, pois tem uma linguagem comum, "que vende".

Por que o cinema brasileiro anda tão violento?

"o ser humano detesta a dor, mas tem uma fortíssima atração por ela; rejeita os acidentes, as mazelas e misérias, mas eles seduzem sua retina". Essa citação foi retirada do livro O vendedor de Sonhos, uma ficção do psiquiatra Augusto Cury que, todavia, fala, de início, dessa fascinação que as pessoas têm pela violências, pelas dores.

Embora o resto do livro não seja exatamente útil para responder à questão proposta, alguns trechos servem para explicar pontos úteis. O cinema brasileiro anda tão violento porque as pessoas possuem forte atração pela violência.

É claro que, se olharmos o geral do cinema nacional, não são tantos os filmes que sejam violentos ou retratem essa realidade do País. O que é curioso é que, aparentemente, apenas eles fazem realmente sucesso - dentro e fora do Brasil.

Sempre temática dos filmes brasileiros, a miséria, a pobreza e a vida das pessoas simples foi enredo de histórias premiadas, como Central do Brasil. Na década de 90 e início dos anos 2000, pela primeira vez as produções nacionais passaram a repercurtir mundialmente. Começando com o filme cuja atriz era Fernanda Montenegro até chegar a Cidade de Deus.

City of God, como foi chamada a produção no exterior, é um marco para o nosso cinema. Embora não tenha ganhado o Oscar, foi o primeiro filme a concorrer em 4 categorias, sendo uma delas a de melhor diretor, para Fernando Meirelles. Infelizmente, a premiação estadunidense dificilmente entrega estatuetas a concorrentes do terceiro mundo, mas, de toda forma, o filme ganhou projeção internacional.

O sucesso de Cidade de Deus foi tamanho que abriu espaço para outros filmes que mostrassem a mesma realidade violenta das favelas do Rio de Janeiro. Tropa de Elite é o exemplo mais recente, mas também houve Cidade dos Homens e muitos outros.

É bem verdade que nem todos os filmes tratam apenas da violência dentro da favela. Outro longa muito premiado do País é o documentário Ônibus 174, que conta a história do famosos sequestro da linha de ônibus 174 no Rio de Janeiro, em 2002. A diferença é que, no documentário, o diretor não tentou mostrar apenas a violência crua carioca, mas humanizou o próprio sequestrador, fazendo o espectador ver que ele tinha um motivo para cometer a atrocidade que cometeu; que ele não fora criado em "berço esplêndido", por assim se dizer.

Seja como for, pelo motivo que tiver, a verdade é que a violência nas favelas brasileiras, principalmente nas cariocas, vende. E vende muito bem. Por mais difícil que seja aceitar isso, o brasileiro deve encarar como sendo sua realidade. É isso que vendemos para o exterior porque é um pouco disso que somos: um país violento, pobre e extremamente desigual.

Sucesso da Tropa

Atualmente alcançar o sucesso de bilheteria e de boas críticas é um desafio cada vez maior para os diretores, produtoras e seus filmes. O mais recente filme do diretor José Padilha virou um fenômeno não apenas pelas críticas e o sucesso nos cinemas, mas também por ser o filme número um nas vendagens dos camelôs.

É com certa facilidade que podemos dizer que Tropa de Elite (2007) nasceu polêmico. Primeiro por se tratar de um assunto muito delicado: violência. Entretanto, não é qualquer violência, mas a violência do Rio de Janeiro, principalmente a que vivemos no nosso dia-a-dia; uma brincadeira de polícia e ladrão potencializada e muito mais complexa.

Dirigido por José Padilha, estreante na ficção e responsável pelo sensacional documentário Ônibus 174 (2002), Tropa de Elite se passa em 1997, pouco antes da visita do Papa João Paulo II ao Rio de Janeiro. Diferente de outros filmes, como Cidade de Deus (2002), em que os personagens principais são os bandidos, a narrativa do mais recente trabalho de Padilha desenvolve-se em cima da polícia carioca. O diretor não vem para mostrar o dia-a-dia do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), mas sim para contar a história do capitão Nascimento (Wagner Moura). Nascimento está cansado do trabalho e acredita que sua nova missão, a de proteger o Papa em sua vinda, é estúpida. Enquanto lida com seus problemas, ele procura um substituto que pode estar nas figuras dos aspirantes Neto e Matias. O primeiro se destaca pela coragem, o segundo pela inteligência e ambos pela honestidade. Se pudesse reunir todas essas qualidades num só homem, o capitão já teria achado o seu candidato.

Um dos principais objetivos de Padilha era fazer com que as pessoas debatessem sobre o filme. Assim como em Ônibus 174, Tropa de Elite seria um documentário, no entanto, os policias entrevistados estavam receosos em mostrarem suas caras ao mundo e sofrerem as conseqüências entre a própria polícia e também o tráfico. Mesmo assim, o filme não deixou de ser um documentário, foram feitos cerca de dois anos de investigações em conjunto com o BOPE, psiquiatras da PM, ex-traficantes e diversos policiais. Os próprios atores passaram por duros treinamentos para a execução final e tão realista que o filme nos traz.

A questão e o discurso do filme acabam sendo ofuscados pelo drama relacionado aos personagens, especificamente do capitão Nascimento. Alguns espectadores preocupam-se mais com desenrolar da história do que a crítica que envolve um filme milimetricamente pensado. Padilha nos mostra, como resultado do descaso do governo, a corrupção em suas diversas formas dentro da própria polícia militar. Assim como em Ônibus 174, o policial do Rio de Janeira é mal preparado, mal armado e não possui a auto-estima necessária, mas em contraponto temos o BOPE, altamente treinado, armado e agindo através da extrema violência.

O segundo ponto polêmico gira em torno da pirataria. Tropa de Elite tornou-se um dos filmes mais comentados antes mesmo de sua estreia nas telonas, o lançamento “da perna de pau” ocorreu dois meses antes do oficial. O DVD pirata podia, e ainda pode, ser encontrado em qualquer camelô que gostaria de estourar em vendas. Segundo dados do Datafolha, mais de um milhão de pessoas já haviam assistido ao filme antecipadamente, sem contar o número de downloads ilegais realizados.

O que nos resta saber é se Tropa de Elite alcançou tamanho sucesso, e consequentemente popularidade, devido sua brilhante execução, ou ganhou tamanha projeção através das vendas antecipadas e ilegais. Afinal, quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?

Por Obséquio

Bia caso fique confusa com tantas postagens minhas o meu texto para avaliação esta em Documentario.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Carlota Joaquinha - Trailer

Carlota Joaquina, Princesa do Brasil.




7 de março, de 1808, a esquadra de D. João VI chega à Baia de Guanabara. Pressionado pela Inglaterra e por medo do avanço das tropas napoleônicas, a família real faz, então, a transferência da corte para o Brasil. Uma viagem que durou quase um ano, em que navios se dispersaram pelo mau tempo e muitos pertences foram esquecidos em Portugal graças a desajeitada e confusa decisão da partida, cerca de 15 mil pessoas se instalaram no Rio de Janeiro durante 13 anos.
Com direção da estreante Carla Camurati e contando no elenco com atores globais como Marieta Severo (Carlota Joaquina) e Marco Nanini (D. João VI), o filme é uma sátira de chegada da corte portuguesa ao país, com humor típico das chanchadas da época que faziam tanto sucesso. Apesar do pouco orçamento para realização do filme, há uma compensação pela parte criativa em explorar os estereótipos de Carlota em suas atrapalhadas na Corte e seus inúmeros amantes juntamente com a falta de preparo de D. João para assumir o trono.
D. João VI e Carlota assumiram o trono em Portugal após a morte de D. José em 1777 e a declaração de insanidade de sua esposa, D. Maria I em 1792. Nessa mesma época, na França, Napoleão Bonaparte começava sua expansionista sobre o Velho Mundo. As conseqüências da Revolução Francesa e o medo do rápido avanço das tropas napoleônicas, D. João VI resolve fugir para sua principal colônia, o Brasil.
A chegada ao Brasil e a instalação no país foi bastante conturbada. Sem o menor pudor e preocupação com a população que habitava a cidade, casas foram requisitadas pela cora portuguesa que colocava cartazes com a iniciais P.R. (casa requisitada pelo Príncipe Regente). D. João VI não tinha muita personalidade política, o que fazia com que fosse incapaz de tomar decisões políticas importantes, sendo alvo constantemente de piadas entre o povo brasileiro. Carlota Joaquina, por sua vez, vez jus a fama de ter seus desejos sexuais insaciáveis. Com muitos amantes, teve 9 filhos, dos quais dizia ser 5 de D. João VI e os outros 4 de amantes quaisquer.
Por outro lado, a chegada da Corte trouxe alguns avanços para o país que estava bastante desgastado com a crise do antigo sistema colonial. O Brasil começava de certa forma a dar seus primeiros passos de uma autonomia econômica, principalmente com a abertura dos portos e a fundação do Banco do Brasil.
Quando as cortes em Portugal conseguiram se livrar das ameaças de Napoleão Bonaparte, exigiram a volta da família real para o país. Em 1821, D. João VI deixa o Brasil e seu filho D. Pedro assume o país. Logo em 7 de janeiro de 1830, no palácio de Queluz, Carlota Joaquina morre. Muitas pessoas acreditam no suicídio.
Ainda assim, esses avanços não foram suficientes para dar uma fama melhor ao episódio da vinda da Corte Real para o país. Desta forma, o filme atinge seu objetivo de mostrar o descaso português em relação à sua principal colônia e como, definitivamente, nossos problemas sociais, econômicos e políticos tem origem desde essa época colonial.





"Cinema, Aspirinas e Urubus"

No fervilhão das produções na época da Retomada, alguns filmes se destacam em meio aos outros. É o caso de “Cinema, Aspirinas e Urubus” (Brasil, 2005), que se afasta da espetacularização do modelo de cinema norte-americano e encanta com simplicidade.
Marcelo Gomes consegue acertar na dose e apresentar uma narrativa com recursos extremamente simples que cativam a atenção de quem assiste. A sensibilidade e desenvoltura com que o diretor pernambucano constrói a obra mostram que a qualidade cinematográfica não se limita a São Paulo e Rio de Janeiro; ainda que as metrópoles sejam celeiros de grandes produções, “Cinema, Aspirinas e Urubus” também ganha seu espaço.
O filme narra a viagem de um alemão pelo interior nordestino vendendo aspirinas pelos vilarejos simples e pobres. Em seu caminho pelas secas estradas, o alemão, Johann, é extremamente solícito e não recusa carona a ninguém que encontra pelo caminho. Entre as figuras sertanejas está Ranulfo, que acompanha Johann por todo o desenrolar da obra.
Em 1942, período que o filme perpassa, o governo brasileiro se sente pressionado pelos Estados Unidos e, em agosto, Getúlio Vargas declara guerra contra os alemães e italianos.
Ainda que a Segunda Guerra Mundial e a miséria nordestina sejam parte do plano de fundo, o filme surpreende pois mostra isso com sutileza, sem exageros dramáticos. A obra explora as relações humanas da dupla, sem pré conceitos sobre as personalidades de cada um.
Nesse sentido, o contexto de guerra serve ainda mais para esboças as relações humanas em tmepos difíceis e o quanto a guerra afeta a vida de todos, mesmo estando distantes dela. Uma cena que retrata fortemente as relações em época de guerra, sem perder o bom-humor, é no momento em que os dois personagens fingem estarem lutando caso se encontrassem na guerra, em lados opostos.
O bom humor, confiança e caridade que Johann oferece às pessoas quebra qualquer antipatia esperada por um alemão em tempos de guerra. O nordestino Ranulfo se mostra o oposto, está sempre desconfiado e não demonstra qualquer tipo de caridade durante a viagem. Embora sejam muito diferentes, ambos possuem algo em comum: estão fugindo de algo; Johann da guerra e Ranulfo da seca. As diferenças entre os personagens provoca curiosidade e uma sutil admiração mútua; enquanto o alemão comemora a distância da guerra, o nordestino almeja o trabalho na empresa da aspirina.
Um momento forte do filme é narrado na cena em que Johann está com febre por causa da picada de cobra e Ranulfo começa a contar sobre a trajetória d emuitos nordestinos; num monólogo, o sertanejo descreve uma suposta jornada em que ele teria tentado “ganhar a vida” na capital e, sob o fracasso da tentativa teria voltado para a seca do sertão. Essa cena é repleta de sensibilidade e consegue emocionar, mostrando a esperança e sonho de muitos nordestinos.
Dessa cumplicidade apresentada pelos personagens, Johann afasta a solidão do emprego – notada já no início do filme através das ações cotidianas repetitivas, sem diálogos e até, de certa forma, desinteressantes e cansativas – e Ranulfo aprende a ser um vendedor de aspirinas – aprende a dirigir e a projetar os filmes de propagandas pelos quais as pessoas se encantam e acabam adquirindo o produto mesmo sem ter necessidade.
Com a entrada do Brasil à guerra, muitas empresas são fechadas. Entre os afetados está o alemão Johann, que recebe uma carta avisando que deve voltar à Alemanha ou se dirigir ao campo de concentração em São Paulo. Como o território nordestino era alvo de uma instalação de bases norte-americanas,a única saída era fugir para a Amazônia, território “esquecido” e aidna pouco habitado.
Se o diretor consegue acertar na dose com uma narrativa simples e personagens espontâneos que parecem muitos reais, fazendo nos esquecermos de que se trata de uma montagem cinematográfica, o trabalho fotográfico de Mauro Pinheiro também deve ser ressaltado. A luz estourada no início do filme nos dá proximidade ao sertão, causando uma sensação de calor e cansaço, chegando até a dar mais lentidão, intencionamente, à narrativa. Os quadros que focam os personagens também são bem construídos. Apesar de serem simples- o que transite, novamente, um ar de naturalidade-, a proximidade com que os protagonistas são, em certos momentos, enquadrados enfatizam o suor escorrendo nos rostos dos viagentes e acaba nos convencendo da ‘realidade’ da narrativa.

A Retomada do Cinema Brasileiro

Primeiramente, para entender a retomada do cinema brasileiro, é preciso, ao menos, citar a pausa na produção cinematográfica no período anterior. Durante o governo de Fernando Collor, no início da década de 90, é extinta a Empresa Brasileira de Filmes -Embrafilme- que oferecia ajuda financeira aos longas e curta-metragem.
Além da Embrafilme, outros recursos foram eliminados, como o Concine – Conselho Nacional de Cinema – que durou de 1976 à 1990 e a Fundação do Cinema Brasileiro, que existia desde 1988 e foi fechada também em 1990.
Com o fechamento desses órgãos de apoio, a produção cinematográfica sofreu uma brusca queda; principalmente em se tratando de longa-metragens, que necessitam de mais recursos para serem produzidos. Existem também expeculações a cerca de outros motivos que teriam colaborado para essa pausa no setor cinematográfico; entre ele estariam a crise econônica nacional – atravessada pelo país em 1980- que teria seus reflexos explícitos na década de 90, as altas taxas de inflação, e o grande sucesso da televisão, que estava atraiando uma enorme audiência na época.
Dois anos depois, com o Impeachment do presidente Collor, Itamar Franco assume o governo. Em Julho de 1993, então, é implementada a Lei do Audiovisual, que descontaria os impostos de empresas privadas que financiassem produções de cinema. Somente em 1995 os reflexos do novo incentivo começam a ser visíveis e novo filmes brasileiros começam a surgir sob ajuda financeira.
Outros incentivos começam a surgir a partir de então. Em 1998 a Cota de Tela passa a ser 49 dias de obrigatoriedade para a exibição de filmes nacionais nas salas de cinema. Em 2001, o presidente Fernando Henrique Cardoso cria a Ancine (agência Nacional de Cinema), a fim de regulamentar e fiscalizar o financiamento e a produção de filmes contemplados pelas leis de incentivo.
Existem duas datas distintas que estabelecem o período da chamada “Retomada” do cinema brasileiro. Algumas pessoas determinam esse período a partir de 1993, quando há o reinício da atividade cinematográfica no país, outros preferem estipular o inicio da retomada em 1995 com o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Não existe um movimento ou uma escola que caracterize o cinema da retomada, o que se pode constatar são algumas caracteriticas presentes nas produções. O que ocorre é que com a inscerção do setor privado e a intervenção das empresas do Estado, os roteiros e as produções sofrem drásticas mudanças. As políticas de incentivo e as empresas vão pressionar os diretores e envolvidos para que as salas de cinema estivessem sempre com grande público, para que, assim, seus investimentos tivessem retorno.
Para isso, era necessário adotar alguns critérios estéticos novos e diferentes para que, assim, pudessem conseguir apoio financeiro. Dessa forma, os roteiros acabam adotando uma linguagem mais simples e com narrativas parecdias com o modelo televisivo da época – que fazia tanto sucesso.
Existia também uma ligação afetiva com o espectador. A ligaçõa entre a publicidade e a propaganda com o cinema tinha sugestão emotiva, sem que fosse necessário citar qualquer propaganda, de fato, nos filmes, os formatos eram muito parecidos, o que fazia com que as pessoas se familiarizassem com as campanhas publicitárias.
Alguns criticos defendem a idéia de que a maioria dos filmes da retomada buscavam apenas o entretenimento e não abria espaço para reflexão em uma “espetaculzarização” da vida. Essa tal espetacularização estava ligada à proximidade com os roteiros norte-americanos.
Basicamente, a maioria dos filmes da retomada faziam alguma referência à sonhos de rápida ascenção. Era comum a personalidade de ‘gente do povo’ que tentava fugir da seca e da fome, em busca de melhorias de vida.
Algumas divergências circundam uma data limite paa o que se chama de cinema de retomada. Alguns acreditam que o termo pode aidna ser usado para a atual produção cinematográfica brasileira, outros preferem limitar esse período para o fim do governo de Fernanco Henrique Cardoso, em 2002.
Os que julgam o fim do cinema da retomada, determinam o período de pós-retomada a partir do filme Cidade de Deus (2002, Fernando Meireles). Para esses, a entrada da globo filmes na produção e distribuição de filmes brasileiros determinaria uma nova caracterização cinematográfica.
O que se pode constatar é que em meio a um vulcão em atividade produzindo filmes, com foi o cinema da retomada, existem coisas boas e ruins, naturalmente. Dentro desse fervilhão o que se precisa é saber filtrar os produtos de qualidade.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Resenha ônibus 174

Jardim Botânico, Rio de Janeiro. 12 de junho de 2000. Dezenas, talvez centenas, de pessoas. Repórteres, cinegrafistas, fotógrafos e, claro, curiosos se amontoavam para acompanhar o que estava acontecendo naquela tarde. Era um espetáculo; Sandro do Nascimento era o centro das atenções, o asfalto e o ônibus da linha 174, seu picadeiro. O Brasil inteiro pára diante da TV, graças às lentes e aos microfones lá colocados, até as imagens das câmeras de monitoramento da Central de Trânsito foram utilizadas. Tudo foi devidamente acompanhado, Todos os ângulos, gestos, palavras e atitudes, assim como num filme.

O documentário Ônibus 174, de José Padilha, é exatamente isto, a vida imitando a arte. O filme relata o incidente conhecido como “Sequestro do ônibus 174”, que resultou na morte do sequestrador Sandro do Nascimento e de uma das reféns, Geisa Gonçalves, com tiros disparados pelo bandido e pela polícia. Fácil seria se o filme fosse tão simples quanto sua sinopse, no entanto, não o é. Padilha vai além do que vimos pela televisão: jovem negro, drogado, assaltando para sobreviver. Na verdade, como mostra o diretor, o buraco é mais embaixo e o buraco da ferida está longe de ser cicatrizado.

O ponto central era o sequestrador Sandro do Nascimento. Aos 6 anos, viu a mãe grávida ser morta a facadas. Depois disso, fugiu da casa da tia e se tornou um menino de rua. Foi um dos sobreviventes da chacina da Candelária (lembra?). Aumentou o consumo de drogas, e participou de assaltos para financiar o vício. Chegou a ser internado em instituições para menores, como a Febem. Saindo de lá, foi adotado por uma mulher na favela Nova Holanda. Já maior de idade, chegou a ser preso, mas fugiu. Aos 21 anos, saiu do anonimato por conta de um ônibus, foi capturado pela polícia e morto por asfixia, já imobilizado, dentro do camburão.

Já nos primeiros minutos do filme, notamos a crítica ao drama brasileiro da desigualdade social sem precisar de palavras: uma sequência de belas imagens aéreas da cidade fluminense, um contraposto entre o belo e rico e o feio e pobre. O diretor José Padilha opta por intercalar o desenrolar do sequestro com a história da vida de Sandro. E ainda há os depoimentos de familiares e amigos de Sandro, meninos de rua, policiais que participaram da ação, uma assistente social que trabalhava com as crianças da Candelária e de um ex-secretário de segurança do Rio.

O objetivo do documentário não é defender nenhum dos lados mostrados, já que todos tiveram voz. O documentário visa criticar, por meio da história de Sandro, a sociedade em que vivemos. Uma sociedade com diversos “Sandros” espalhados pelas ruas, invisíveis, sem reconhecimento, fantasmas de um sistema desonesto. Garotos invisíveis pois nós os negligenciamos e/ou projetamos sobre eles um estigma, uma caricatura.

Sandro, portanto, torna-se uma espécie de ícone dos garotos excluídos pela sociedade, faminto por existência e reconhecimento social. Ele encontra, através da violência, uma forma de chamar os holofotes para si e para todos os problemas envolvidos por trás de seu grito desesperado e impotente contra a invisibilidade. Interessante notarmos a glória de ser reconhecido, mesmo sendo através do medo e da violência, assim como de alguns personagens no filme, com lançamento no mesmo ano do documentário, Cidade de Deus, de Fernando Meirelles.

Muito além de vilão, Sandro é também uma vitima do mundo em que vivemos, uma sociedade que não dá a menor importância para a criança abandonada – constatação muito bem ilustrada em cenas que mostram crianças fazendo malabarismos em frente a sinais de trânsito, enquanto os motoristas fechavam os vidros dos carros e olhavam para outro lado.

O caso do sequestro do ônibus mostra também outro grande problema brasileiro: o total despreparo da polícia. Os próprios policiais encarregados do caso reconhecem a crítica evidente do filme. A polícia do Rio de Janeiro (será que somente ela?) está mal armada, mal empenhada, mal treinada e sem auto-estima. Os policiais não sabem para que estão sendo formados, eles acreditam que sua principal função é “prender e matar marginal”. Diferente do que é mostrando no filme “Tropa de Elite”, um treinamento intensivo, no qual poucos alcançam o sucesso. No entanto, em ambas as “realidades” há a má remuneração, o que pode levar ao problema da corrupção, mas isso entraria em outra história.

Interessante os três filmes citados serem sobre a violência no Rio de Janeiro. Isso nos faz acordar para o fato de que precisamos resolver essa questão, mas não é tão simples. Sandro do Nascimento assaltou um ônibus e fez vários reféns. Algo que não terminou bem no final do dia. E então? A quem culpar? A incompetente administração pública? A ele mesmo, drogado e sem educação? Ao Estado, que lhe deixou ser ignorante? Aos que pouco se importam com a situação? José Padilha joga para todos os lados. Não há uma resposta, quanto mais uma resposta fácil, que possa ser conseguida em um documentário, por melhor que este seja.

A imobilização e o sufocamento de Sandro mostra que cabe à polícia o trabalho sujo que a sociedade não pode fazer, já que muitos que acompanharam o caso desejaram o linchamento do seqüestrador. A polícia serve como um regulador, eles acabam com os “Sandros”, reconquistam a invisibilidade dos garotos, para uma sociedade que prefere continuar cega aos problemas.

Como acredita o cineasta Bruno Barreto, diretor do filme “Última Parada 174”, baseado na história real de Sandro: “O ônibus 174 é o nosso 11 de setembro”. “Não é sobre um episódio violento, mas sobre as conseqüências da violência”, completa Barreto.

domingo, 7 de junho de 2009

Resenhas internacionais

Como dissemos em nosso seminário, uma das características que reanimaram o cinema brasileiro foi a abordagem do tema da violência urbana e a aceitação da crítica nacional e internacional dessa temática. Nos EUA e Europa, tanto Ônibus 174 quanto Cidade de Deus foram extremamente bem recebidos por quase todos os críticos. Foram esses dois filmes que recolocaram o Brasil no mapa do "cinema cult". Eles receberam inúmeros prêmios, e são referência do cinema nacional. Tropa de Elite, aparentemente, seguiu o mesmo caminho.

Há duas críticas, em Inglês, uma do Ônibus 174 - da BBC -, outra do Cidade de Deus - da revista TIME. Seguem os links.

Cidade de Deus

Ônibus 174

Resenha: ônibus 174

Se há um clichê para definir o filme Ônibus 174, de José Padilha, é “um tapa na cara”. Poderia falar-se, também, em “soco no estômago” ou qualquer outra frase desse nível. Mas o que impressiona mesmo no vídeodocumentário não são esses lugares-comuns que ele traz; são os “lugares-comuns” cotidianos que ele explicita de forma impressionante; são aquelas verdades brasileiras escondidas por debaixo do pano das quais se costuma dizer que “não acontece comigo”.


O que o diretor José Padilha mostra no relato do famoso caso do ônibus da linha 174 – que foi sequestrado em 12 de Julho de 2000 no Rio de Janeiro, no bairro do Jardim Botânico – é justamente que há uma indiferença por parte do povo brasileiro quanto ao que acontece na sociedade – e, obviamente, quais as consequências disso. O cineasta leva a falta de consideração do brasileiro das classes médias e altas, sua completa alienação, à última instância, que é o seqüestro do ônibus per se.


A história se passou em 2000, quando o Brasil inteiro assistiu pela televisão ao sequestro de um ônibus no Rio. Todo o processo levou uma tarde inteira para culminar no assassinato do sequestrador e de uma das reféns. E o que poderia, se fosse para ser filmado, transformar-se em um Tropa de Elite mais comercial, acabou virando documentário nas mãos de Padilha, que procurou mostrar o lado do sequestrador, Sandro Barbosa do Nascimento, e tentou fazer o público enxergar para aonde caminha a sociedade no Brasil.


Uma das partes mais marcantes do filme é quando resolve-se falar de outro episódio vergonhoso da história do Rio de Janeiro, A Chacina da Candelária, na qual 8 jovens moradores de rua foram cruelmente assassinados por policiais militares. O narrador, no momento em que está falando sobre o ocorrido, conta que, à época, para a sociedade como um todo, a atrocidade havia sido bem executada, e a maioria das pessoas concordavam com aquilo. A população sempre quis simplesmente exterminar essa “escória” da sociedade.


Com Sandro as opiniões não foram muito diferentes. São incríveis as imagens feitas depois que o sequestrador já havia sido baleado, nas quais centenas de civis correm para o local e começam a dar pontapés e chutes no marginal. As pessoas esquecem, porém, que anos atrás concordaram com um ato de barbárie equiparável ao que passaram a tarde a assistir – ironicamente, veio a descobrir-se que Sandro era um dos sobreviventes da Chacina.


José Padilha coloca, portanto, em discussão quem pode ser realmente taxado de vilão e de “mocinho” na história do ônibus 174. O diretor, porém, não se preocupa em exprimir abertamente sua opinião, mas, antes, prefere fazer germinar o debate social por trás da história de um menino pobre que viu sua mãe ser assassinada, teve que se mudar para as ruas do Rio, sobreviveu a uma chacina cometida por policiais e acabou seqüestrando um ônibus sem, porém, matar ninguém – não se sabe oficialmente quem matou a única refém vitimada, mas é sabido que o primeiro tiro, na cabeça, foi dado por um policial.


As diversas fontes ouvidas pela equipe do filme denotam sua provável imparcialidade no assunto: algumas das reféns passam o filme inteiro contando o fato, mas a mãe de criação de Sandro, sua tia e uma assistente social que cuidou dele intercalam seus depoimentos com os de alguns policiais e até mesmo de um colega marginal do sequestrador.

O fio condutor do documentário, a história de fundo, que é a do sequestro, é mantido pelos depoimentos de quem viveu a situação. Mas o filme preocupa-se em, a toda hora, mostrar o que tudo aquilo quer dizer em um país no qual grande parte da população não tem direito a recursos humanos básicos, em que o sistema carcerário funciona aquém daquilo esperado para se garantir o mínimo de direitos humanos, e aonde uma elite preconceituosa acha melhor exterminar bandido e morador de rua ao invés de pensar em formas de acabar com essa situação precária.


Sem focar sempre no que acontece no ônibus, o filme vai contando pequenas histórias de ex-colegas de rua de Sandro, denuncia situações esdrúxulas em prisões e casas de reeducação social brasileiras, mostra como a opinião pública é completamente alienada e bárbara, e tenta convencer o espectador de que “as coisas não são bem assim”.


É certamente um filme que revolta e causa desconforto. E esses sentimentos são causados justamente porque o público sabe que tudo aquilo que está sendo falado ali na tela é verdade; que todos os debates ali propostos são sérios; que ninguém realmente nunca faz nada. As pessoas sabem que “ninguém faz nada pelos Sandros” do Brasil. O público que assiste a Ônibus 174 tem consciência da realidade que não quer aceitar – por isso sai tão abalado do filme.


O que realmente acaba sendo irônico é que José Padilha, que tentou sacudir o brasileiro e abrir-lhe os olhos, não fez mais que causar um sentimento instantâneo nele; um falso moralismo momentâneo que perdura, no máximo, até a conversa no bar pós sessão de filme para a maioria. Muitos saem revoltados, querem mudar alguma coisa naquele momento, mas aí vão dormir, acordam no outro dia e fecham as portas para os milhares de Sandros que Padilha tentou mostrar. No fim, é difícil encontrar alguém que de fato esteja disposto a tentar mudar a situação. E aí o Brasil continua, até o ponto em que, possivelmente, estoure novamente a realidade e outro ônibus 174 aconteça.

VIOLÊNCIA E POBREZANO CINEMA BRASILEIRO RECENTE

Abaixo, algumas partes do artigo científico de Esther Hamburguer sobre a violência no cinema brasileiro. A íntegra do texto pode ser encontrada aqui.

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Eu sou um mito.Foi a imprensa que fez esse mito.Eu sou o monstro que vocês criaram. Márcio Amaro de Oliveira, o traficante Marcinho VP, aos jornalistas que acompanharam sua prisão. O crescimento da violência entre forças estatais eparaestatais assusta. Nos anos 1990, uma série de massacres impetra-dos por forças policiais ou de polícia paralela marcou o processo deredemocratização. Nos anos 2000, o crime organizado passa a desen-volver ações de guerrilha urbana como “arrastões”,toques de recolher, ataques a ônibus e delegacias policiais.
Esse tipo de violência não é prerrogativa brasileira. Há uma profu-são de estudos sobre os mais diferentes casos de violência estatal e degrupos organizados na Colômbia, Venezuela, México, para não falardo Oriente Médio,talvez o maior barril de pólvora do novo milênio. Há relativamente pouca atenção,no entanto,ao elemento que nosinteressa:o papel que a visualidade — especificamente a visualidadetelevisiva e cinematográfica — desempenha nessas dinâmicas. Na fronteira das ciências sociais com os estudos de cinema e televisão,a idéia éespecular sobre os jogos simultaneamente políticos e estéticos que vãodefinindo os contornos do universo do que merece se tornar visível.Filmes tão diversos como Notícias de uma guerra particular(1999),Palace II (2000),Cidade de Deus (2002),Oinvasor (2003),Ônibus 174(2003),Cidade dos homens (2003),entre outros,e recentemente Falcão,meninos do tráfico (2006),documentário concebido e dirigido por MVBill e Celso Athayde,moradores de Cidade de Deus,são alguns exem-plos de obras de ficção ou documentário que acentuaram a presençavisual de cidadãos pobres,negros,moradores de favelas e bairros deperiferia no cinema e na televisão brasileiros. Ao trazer esse universo àatenção pública,esses filmes intensificaram e estimularam o quechamo de disputa pelo controle da visualidade,pela definição de que assuntos epersonagens ganharão expressão audiovisual,como e onde,elemento estraté-gico na definição da ordem,e/ou da desordem,contemporânea. Nessa periferia pouco acostumada à exposição,a visibilidade esti-mulou uma reação crítica contundente.A epígrafe deste texto citaMarcinho VP,personagem incógnita do filme de João Salles,que disseaos jornalistas que cobriam sua prisão:“eu sou o monstro que vocêscriaram”. A frase revela sensibilidade crítica para o jogo de espelhosque define personalidades mais ou menos estereotipadas e que GuyDebord,cineasta (ou anticineasta) e filósofo francês cujo livro ficouconhecido com os movimentos de maio de 1968 na França,definiucomo sociedade do espetáculo.
[...]
Vale aqui uma incursão na história de possíveis interlocuçõesentre diferentes tratamentos visuais da pobreza e da violência nocinema e na televisão no Brasil. Ao contrário da televisão,que compoucas — emboratalvez crescentes — exceções tem se concentradoem difundir versões glamorosas da vida que a sociedade de consumopermite,o cinema brasileiro,desde o início de sua história,abordasituações de pobreza. Diferentes tratamentos estéticos de temas como pobreza e violên-cia em situação urbana,especialmente em favelas,marcam transiçõesrelevantes entre períodos da história do cinema brasileiro. Um romantismo simpático está presente nos filmes que inauguram o cinemamoderno; o cinema novo enfatiza a violência, principalmente nocampo,mas também em meio urbano,em chave alegórica,como formade questionar ideologias hegemônicas,desenvolvimentistas e de con-vivência pacífica. Mais recentemente, o cinema da retomada associaviolência e pobreza em chave documental9. A emergência do cinema moderno no Brasil está umbilicalmenteassociada à favela carioca. No filme de Nelson Pereira dos Santos Rio 40 graus,de 1955,a favela aparece como uma espécie de reduto:lá moram a solidariedade e a poesia.

Quando a realidade parece ficção, é hora de fazer DOCUMENTÁRIOS

Não foi feita ainda a chamada do 5º DOCTV, mas vejamos a do ano passado que é muito boa:


Mais informações sobre o DOCTV nos links:

http://www.tvcultura.com.br/doctv/

http://doctv.cultura.gov.br/

Cinema Documental no Brasil – Criado do “jeitinho brasileiro” – Atualmente uma importante ferramenta de disseminar cultura no Brasil.

Documentário se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade, mas não necessariamente representa a realidade tal como ela é. O documentário, assim como o cinema de ficção, são representações parciais da realidade.
Durante as décadas de 10 e 20 no Brasil, predominou-se a produção de um cinema natural, sem gastos, com a produção de documentários e cine-jornais a fim de levantar recursos para a produção de filmes ficcionais. Daí surgiu o cinema documental no brasil. Com o jeitinho brasileiro de se fazer as coisas. De lá praça o cinema documental sofreu algumas mudanças, e nomes que caracterizaram significativamente essa mudança foram Walter Salles, seu irmão João Moreira Salles.Talvez porque eles tinham recursos próprios pra fazerem seus filmes, e não dependiam do incentivo do governo ou das empresas privadas, que até meados dos anos 90 era praticamente zero.
Foi nessa época, pelos programas de incentivo á cultura, resgatados pelo governo FHC, em que o documentário de longa-metragem chega novamente às salas de exibição no final dos anos 90, com sucesso de público e crítica. Aurélio Michilles filma, em 1997, O Cineasta da Selva, sobre o trabalho do pioneiro Silvino Santos na Amazônia. A proliferação de filmes mostra a vitalidade do formato documental no cinema brasileiro contemporâneo. Nesse período também a TV a cabo se fortaleceu no país e surgiu como parceira em co-produções e exibições. João Moreira Salles co-dirigiu, com Kátia Lund, o filme Notícias de uma Guerra Particular, 1999. Casa Grande e Senzala, de Nelson Santos em 2000, foi outro cinema documentário a se destacar produzido pra tv.
O documentário é, desde seu início no Brasil, campo ideal para experimentações de linguagem. Exemplo disso é O Prisioneiro da Grade de Ferro, 2004, de Paulo Sacramento, filme que relata a vida dos detentos do presídio Carandiru, com trechos filmados pelos próprios detentos. Ônibus 174, de José Padilha, 2004, é outro filme que caracteriza essas experimentações de linguagem, é um filme que se utiliza de imagens de arquivo para analisar o famoso seqüestro de um ônibus ocorrido no Rio de Janeiro, evento que marcado pela onipresença da mídia e ação desastrosa da polícia. O avanço da tecnologia, aliado ao barateamento dos equipamentos, a diminuição no tamanho dos equipamentos digitais, a facilidade no transporte e a conseqüente diminuição das equipes,levou a um aumento significativo no número de documentários produzidos, e têm proporcionado também o surgimento de obras construídas em primeira pessoa como o Passaporte Húngaro, 2003, de Sandra Kogut; e 33, de Kiko Goiffman, realizado em 2003.
No ano de 2003 a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, a TV Cultura de São Paulo e a Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (ABEPEC), com o apoio da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), lançaram o programa de fomento à produção e teledifusão do documentário brasileiro, intitulado DOCTV. O modelo de carteira de financiamento do DOCTV originou programas regionais de financiamento nas emissoras públicas de alguns estados, Foi lançado, ainda, um programa de co-produção e exibição internacional na Ibero-América, intitulado DOCTV Ibero-América. O DOCTV, realizado em parceria com produtores independentes e exibidos em rede nacional de televisão aberta, faz chegar cultura de qualidade a um público potencial de milhões de pessoas, em filmes documentários produzidos nas diferentes regiões brasileiras, numa iniciativa sem precedentes no país.

História da Televisão no Brasil

Pequenos textos sobre a televisão em diversas décadas.

Anos 90

Anos 2000

A violência policial no cinema brasileiro

"Quando fiz o filme do ônibus 174, com o ponto de vista da violência do Sandro Nascimento e sua história de vida, me deu uma idéia: por que não fazer um filme do ponto de vista da violência policial, daqueles policiais que mataram o Sandro?" Foi assim que José Padilha, diretor do filme Tropa de Elite, que atraiu um público de 180 mil espectadores só no fim de semana de estréia em São Paulo e no Rio de Janeiro, deu início ao debate com alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, promovido pelo Fórum de Ciência e Cultura da instituição.

Após a exibição gratuita do filme para os estudantes universitários, nesta última terça-feira, 16/10, o debate reuniu centenas de alunos no teatro de arena no campus da UFRJ para discutir com o diretor e os três autores do livro Elite da Tropa [do sociólogo Luís Eduardo Soares, André Batista e o ex-capitão do BOPE que atuou seis anos na corporação, Rodrigo Pimentel, que deu origem ao longa-metragem].

Tropa de Elite, que foi escolhido como filme de abertura do Festival do Rio 2007, em setembro, teve seu lançamento nas telas de cinema antecipado para 12 de outubro. O filme, que contou com um orçamento de dez milhões e meio de reais, uma das produções mais caras do cinema brasileiro, é sucesso de público e crítica.

Sinais claros de execução

O filme é narrado por um policial do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar. Para Padilha, o personagem capitão Nascimento acredita profundamente que a violência deve ser combatida com a própria violência. "O policial que integra o BOPE é um caso extremo de uma polícia que acredita na violência como solução."

José Padilha explica que sua opção por mostrar o lado policial é que no Brasil não havia nenhum longa-metragem que abordasse esse ponto de vista – a exemplo de Carandiru, Cidade de Deus e 174, que apresentam outras realidades.

Luís Eduardo Soares, um dos autores do livro, considera que as polícias, em especial a do Rio de Janeiro, são as mais violentas do mundo. E apontou, como dados a título de comparação, que nos EUA a polícia é tida como a mais brutal e mata 200 pessoas por ano.

Segundo ele, dados de 2003 apontam que houve mais de mil mortes no estado do Rio com "sinais claros de execução pela polícia". O sociólogo enfatiza os dados mais recentes de 2006 e 2007: no ano passado foram 1.600 mortes e este ano já chegamos a 1.400. Em cinco anos, mais de quatro mil casos de pessoas assassinadas.

Identidade selvagem

E destaca: "É inaceitável conviver com essas estimativas." Com o filme e o livro, Luís Eduardo Soares incita a mobilização da opinião pública para discutir a atuação da polícia e pôr em questão esses dados.

Rebatendo as críticas, o diretor afirma que nem o Sandro, nem o Nascimento, são heróis. Considerar algum deles como herói, é "simplificar o entendimento do filme". Para ele, é preciso ser capaz de olhar e entender o discurso policial assim como o do Sandro retratado no documentário 174.

"A minha idéia era fazer um filme que as pessoas debatessem", disse Padilha. Ele considera que o BOPE é um batalhão treinado para a guerra, para a caça aos traficantes. O BOPE é retratado no filme ambientado em 1997. Na época, 120 homens compunham o batalhão, que hoje já tem mais de 400. "Se uma cidade que precisa ter esse tipo de polícia especial, isso é um sério problema. Não deveria existir uma polícia como essa, não resta a menor dúvida que ela precisa ser mais humana e respeitar a lei."

Luís Eduardo Soares destaca que a sociedade tende a generalizar os policiais como se fossem os principais agressores. "Eles também são vítimas", disse. E acrescentou: "O BOPE é como se fosse uma seita, há um processo de institucionalização da violência, o capitão Nascimento é fruto da construção de uma identidade selvagem."

"Politicamente inviável"

De acordo com o sociólogo, há dois grandes problemas na polícia: a corrupção e brutalidade. E sobre livro, ressalta que "há um processo histórico da política de segurança pública que está padronizando as atitudes rígidas. Os policiais são também vítimas, antes mesmo de serem apontados como algozes."

Rodrigo Pimentel concorda e afirma que: "A polícia reproduz as violências, os preconceitos e a corrupção da sociedade carioca. A nossa sociedade é violenta, é corrupta e aceita o falso herói como o Nascimento. A polícia acaba fazendo uma réplica da violência desses valores sociais."

José Padilha enfatiza que o filme não tem como pretensão demarcar uma posição político-partidária. E rebate mais críticas: "No 174, me perguntaram se eu era radical de esquerda; neste [Tropa de Elite], se eu sou radical de direita; isso seria politicamente inviável", ironiza. De acordo com o diretor, há uma noção equivocada de que a arte deve sempre propor soluções e abordar toda a realidade – "Isso não é verdade", afirma.

Descriminalização das drogas

"O filme mostra que o usuário recreativo de drogas – aquele que não é viciado e pode escolher comprar ou não – sabe de quem está comprando [se referindo aos grupos armados nas favelas]". Para ele, o filme questiona se aquele que consome drogas está financiando ou não grupos armados com o dinheiro pago pela droga.

Já Luís Eduardo Soares é mais contundente: "É claro que as drogas financiam as armas."

O filme aponta para uma sociedade que coloca o consumidor numa situação complicada: ou ele compra de grupos armados e acaba financiando a violência urbana, ou não consome.

Esse debate suscita uma polêmica ainda maior: a descriminalização das drogas. Padilha se pergunta por que a droga tem que ser criminalizada e a bebida não.

Sobre isso, responde: "Sou a favor da descriminalização das drogas, as pessoas devem escolher o que elas fazem. Se eu quero comprar maconha, o que o Estado tem a ver com isso?"

Porém, o diretor de Tropa de Elite questiona se, com a descriminalização, a violência urbana diminuiria. "Tenho minhas dúvidas, toda vez que se combate o tráfico de drogas aumentam os seqüestros e homicídios."

Piratear não é a solução

Mas não foi só pelas críticas e pela bilheteria que o Tropa de Elite virou um fenômeno. Ele também bateu o recorde da pirataria. Segundo pesquisa do Datafolha, só em São Paulo cerca de um milhão e meio de pessoas já assistiu ao DVD pirata. No dia 11 de outubro, foram apreendidos em todo o Brasil mais de 1 milhão de CDs e DVDs pirateados – Tropa de Elite representou 10% de toda a apreensão.

A cópia foi vendida pelos camelôs dois meses antes da estréia do filme, que ainda não tinha a versão final. Além do Rio e São Paulo, os DVDs piratas podiam ser comprados em grandes cidades como Brasília, Belo Horizonte e Salvador. Na internet, mais de 70 mil sites oferecem o filme para download.

Sobre o fenômeno que popularizou o filme, Padilha não nega que tenha ganhado mais projeção, mas mesmo assim considera a pirataria crime. "A pirataria envolve sonegação fiscal, não paga impostos, nem reconhece direitos trabalhistas ou dos consumidores. Eu sou a favor de um cinema mais barato, mas piratear não é a solução."

Em resposta a uma sugestão da platéia de fazer um filme sobre os verdadeiros "chefões do tráfico", Padilha garante que o próximo filme será sobre o Congresso Nacional. O roteiro está sendo escrito junto com o Gabriel, o Pensador.

Fonte: Observatório da Imprensa

Violência e pobreza no cinema brasileiro recente: reflexões sobre a idéia de espetáculo

"O artigo analisa obras recentes de ficção ou documentário que acentuaram a presença visual de cidadãos pobres, negros, moradores de favelas e bairros de periferia no cinema e na televisão brasileiros. Ao trazer esse universo à atenção pública, esses filmes intensificaram e estimularam uma disputa pelo controle da visualidade, pela definição de que assuntos e personagens ganharão expressão audiovisual, como e onde, elemento estratégico na definição da ordem (ou desordem) contemporânea."

Clique aqui para ler o artigo completo da professora Esther Hamburger, do Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA-USP.

DIRETO DO FRONT - José Padilha abre o jogo sobre a violência e a "polêmica"

Tropa de Elite não foi obra do acaso. José Padilha é o autor do também “porrada na cara” documentário Ônibus 174 – sobre a construção de um criminoso na sociedade brasileira – e o produtor do sensacional Estamira, filme sobre uma mulher esquizofrênica que vive em um aterro sanitário no Rio. Mas Tropa de Elite é um trabalho transcendental. De tão poderoso, mudou até mesmo a maneira que os traficantes recebem a polícia nas favelas cariocas. Nesta conversa franca com a Jungle, o diretor conta sobre o Urso de Ouro, sobre as causas da violência e sobre todas as críticas e elogios que escutou desde o final de 2007. Cansado de conclusões errôneas, ele expõe sinceramente que não se sente à vontade com as críticas de que o Tropa de Elite é fascista. A entrevista foi tensa, mas Padilha abriu o jogo.

O Cidade de Deus ainda é uma grande referência do cinema brasileiro aqui na Europa e a impressa tem comparado o filme ao Tropa de Elite. Você acha justa esta comparação?

Os filmes têm algumas coisas em comum e outras bem diferentes. Para começar, o tema. O Cidade de Deus é um filme que fala sobre guerra entre quadrilhas em uma favela. É um filme que fala sobre a formação do tráfico e é centrado quase que exclusivamente no tráfico. O Tropa de Elite entra com a interseção de quatro universos diferentes. Um deles é o universo dos traficantes, o outro é o universo da polícia convencional, depois tem o universo da Tropa de Elite, com a sua agressividade e desrespeito aos direitos humanos e, finalmente, o universo dos estudantes universitários que consomem drogas. O filme fala sobre como é que os quatro universos diferentes interagem entre si e de que forma essa interação gera violência. Então, o tema dos dois filmes é diferente. A forma de filmar também não é muito parecida, porque meu filme é totalmente com câmera na mão, vem
de uma formação de documentarista, diferente da formação do Fernando Meirelles. Agora, os dois filmes têm em comum o fato de serem filmes que, embora falem de problemas sociais, não se distanciam do espectador. Os dois filmes têm personagens eticamente errados, equivocados, mas interpretados por atores com grande carisma, e que levam o público a se identificar com esses personagens: no Tropa, o capitão Nascimento, no Cidade de Deus, o Zé Pequeno. E isso suscitou críticas em comum aqui no Brasil aos dois filmes. Sobre o Tropa de Elite foi dito que uma parcela da população se espelha no capitão Nascimento e sobre o Cidade de Deus, as pessoas disseram que estimulava o tráfico, estimulava as crianças a imitar o Zé Pequeno.

O Tropa de Elite é todo narrado em primeira pessoa, do ponto de vista do comandante do BOPE e é recheado de música, de ação envolvente. Surpreende que muita gente tenha considerado o filme simpático ao BOPE?

Na verdade, a esmagadora minoria das pessoas disse isso. É necessário não entender o filme para falar isso. O filme mostra de forma muito clara o BOPE torturando de maneira vil e matando dentro das favelas. O filme não mostra isso escondido, mostra na cara do público. O BOPE entrou na Justiça contra o filme, todos os oficiais do BOPE entraram na Justiça com uma ação comum, para impedir a exibição do filme, para nos obrigar a retirar do filme as cenas de ação, as cenas de tortura e de morte na favela. Finalmente, a própria polícia puniu os políciais que ajudaram na realização do filme. Então, a polícia e o BOPE não gostaram do filme. Entenderam o filme como sendo uma crítica. O júri do Festival de Berlim também entendeu assim.

E qual foi seu objetivo principal ao fazer o filme? Era uma sátira das ações do BOPE?

O filme não é uma sátira, é uma crítica. O filme é uma crítica ao Estado, é uma seqüência do Ônibus 174. No Ônibus 174 contamos a história de um criminoso muito violento do ponto de vista do criminoso. E, através dessa história, nós mostramos como é que o Estado pegou um menino de rua e o torturou, o colocou em instituições que não eram escolas (eram campos de concentração), o colocou em cadeias superlotadas... E, ao lidar assim com um pequeno criminoso, o documentário mostra como o Estado o transformou em um grande criminoso. Então a pergunta do Ônibus 174 é: “como é que o Estado formou esse personagem que está dentro do ônibus?” O Tropa de Elite é exatamente a mesma coisa, mas pelo outro lado. Como é que o Estado constituiu esse personagem, o capitão Nascimento, um polícial tão violento? E o filme faz isso com muita clareza, se você olhar pro filme, pra sua estrutura narrativa, você vê que o filme começa com o Nascimento em crise, descobrindo que a ideologia de controlar a violência é incompatível com a sua própria família, querendo sair da Tropa de Elite. Qual que é o drama do filme? Para ele sair, ele tem que produzir uma pessoa exatamente igual a ele. Claramente, o filme fala como esse personagem se cria na nossa sociedade. Portanto, é uma crítica do consenso social que cria esse tipo de polícial.

O Urso de Ouro em Berlim mudou o o rumo da sua carreira?

Sim. Quando você ganha um festival como o de Berlim, isso divulga o seu trabalho. Não significa que o seu filme é melhor do que os outros filmes, significa apenas que o júri do festival escolheu o seu filme para, de uma maneira simbólica, dizer: “olha, prestem atenção nesse filme”. Isso muda a carreira internacional do filme que ganha, das pessoas que trabalharam nele.

Você discorda da maneira como o governo do Rio de Janeiro lida com a violência?

O governo atual tem uma política de enfrentamento na favela. É uma política baseada no BOPE. Quantas pessoas a polícia matou no RJ no ano passado? Mil e duzentas pessoas. Só para você entender o tamanho desse número, nos EUA, que é um país de 300 milhões de habitantes, a polícia matou ano passado 200 pessoas.

Como é fazer um filme numa favela? Quais as dificuldades que vocês encontraram em filmar no morro?

É muito difícil fazer um filme na favela porque você tem que ter a plena certeza de que o traficante que controla uma favela está de acordo com a filmagem. E depois você tem que ter certeza de que a polícia não vai invadir aquela favela enquanto você está filmando – se ela fizer isso, e acontecer um tiroteio, você pode correr riscos. A gente talvez não tenha sido muito eficiente em nenhuma dessas duas coisas porque uma vez a polícia tentou invadir a favela, houve tiroteio e quase que uma pessoa da equipe foi baleada. E também tivemos traficantes que seqüestraram um carro com as armas cenográficas, com as balas de festim e com quatro pessoas da equipe dentro. Isso fez com que a polícia entrasse na favela, que era a nossa locação. O filme foi parado e tudo o mais. Isso aconteceu provavelmente porque não fizemos nenhum acordo com os traficantes. Fomos nas associações de moradores e nas ONGs que as favelas têm, fizemos acordo com elas e contratamos várias pessoas da comunidade para filmar e trabalhar com a gente, empregamos várias pessoas e fizemos doações para as comunidades. Só que a gente sabia, evidentemente, que as comunidades estavam se comunicando com os traficantes.

E de que você sentiu mais medo no final das contas: da polícia ou dos traficantes?

Eu senti mais medo dos traficantes porque eles usam drogas e você nunca sabe o que vai acontecer. Quanto à polícia, eu achava muito difícil ela nos fazer algum mal durante a filmagem porque a repercussão na imprensa seria muito grande. Na verdade, o que a polícia tentou fazer foi não dar autorização para as filmagens. Mas o que acabou acontecendo foi que a polícia começou a revisar
o roteiro e aí a gente respondeu que não cabe à polícia avaliar roteiro. Eles dão autorização de filmagem ou não baseando-se em outros fatos, não no roteiro do filme. Aí criou-se um impasse que durou três meses até que a gente foi ao governador do Estado do Rio e falamos sobre a censura, explicamos que no Brasil existe a liberdade de expressão. O governador fez um cálculo político consigo mesmo: “é melhor ser chamado de censurador e ter toda a imprensa contra mim ou deixar eles filmarem e depois a gente se vira com isso?”. E ele optou pela segunda opção. Graças a Deus.

Fonte: Jungle Drums

Trailer - Cidade de Deus

Reportagem do Fantástico sobre Tropa de Elite

Trailer - Tropa de Elite

A mente de um criminoso - Ônibus 174

Trailer - Última Parada 174

Crítica do filme "Ônibus 174", por Luana Espeschit