quarta-feira, 10 de junho de 2009

"A Mulher Invisível"


por Henrique Piotto

Já que o blogue é dos anos 90/00 e que acabei de chegar do cinema, resolvi escrever sobre esse filme que no momento considero insuperável. Geralmente, quando o filme é bom, chego encantado com o filme. Depois começo a ver nele vários defeitos, e como é melhor falar bem das coisas, a gente fica bem com todo mundo e tal...
Um filme com formato hollywoodianozinho, feito no Brasil? Por que gostei tanto de "A mulher invisível" com Selton Melo e Luana Piovani? Porque é feito no Brasil! "A mulher invisível" tem, ao mesmo tempo, um tom comercial que remete aos filmes da California, esses de comédia romantica feminino, mas com a fórmula aplicada na história de um homem. O filme consegue ser engraçado, ter uma história de amor "lindaaaa" que agrada ao gênero feminino e ser uma análise profunda do cérebro masculino. É um filme de homem. Não daqueles "filmes de homem", esteriotipados, que tem muita porrada e mulheres gostosas, ou melhor, até tem um ou dois socos, e alguns tapinhas. Tem também mulher gostosa semi-nua, e mulher tipo Luana Piovani e a não menos boa em vários sentidos, Maria Manoella. É um filme que fala da relação do homem com o melhor amigo, de infelicidade na profissão, das inúmeras mulheres, enfim eeeesses problemas da vida do homem moderno (e eu achando que to escrevendo uma resenha pra Playboy né). Depois de uma desilusão amorosa, Pedro Albuquerque (Selton Melo) é um funcionário público de sucesso e é também um romântico, daqueles clássicos. Ele sonha em achar a mulher ideal formar família e ter filhos com ela. Mas a mulher dele não queria. Alem disso eles tinham também uma vizinha que escutava toda sua vida pessoal da parede do apartamento ao lado, enquanto o marido assistia TV na sala (citei isso pela cena genial de comparação entre a TV e a vida pessoal dos vizinhos). Um dia "recolhido do mundo" trancado por semanas em seu apartamento após uma desilusão amorosa, que lhe trouxe inúmeros problemas pessoais, Pedro conhece sua nova vizinha, uma mulher solteira bem-humorada, sexy, linda e sexomaniaca que transa no primeiro encontro. Uma mulher que vive arrumando a casa vestida apenas com uma lingerie, adora futebol , e aposta peças de roupa em cada penalti batido. A tal vizinha sente ciúmes, mas não liga quando ele vai pra balada e beija um casal de lesbicas gosotosas. A tal mulher só pode ser uma mulher inventada, uma mulher invisível. Mas será mesmo? Essa mulher exite? Ou a mulher perfeita é aquela que combina, e gosta do homem?(Sou romantico mesmo...) Vale a pena conferir mais essa ótima opção do cinema brasileiro, uma boa combinação de humor inteligente com roteiro inteligente, mas que diferentemente de "O cheiro do ralo" (outro filme genial estrelado pelo Selton, que também tem as qualidades do Mulher invisível) que é muito abstrato, é um filme " de homem", mas que todo mundo gosta porque tem um final feliz e entende, pois tem uma linguagem comum, "que vende".

Por que o cinema brasileiro anda tão violento?

"o ser humano detesta a dor, mas tem uma fortíssima atração por ela; rejeita os acidentes, as mazelas e misérias, mas eles seduzem sua retina". Essa citação foi retirada do livro O vendedor de Sonhos, uma ficção do psiquiatra Augusto Cury que, todavia, fala, de início, dessa fascinação que as pessoas têm pela violências, pelas dores.

Embora o resto do livro não seja exatamente útil para responder à questão proposta, alguns trechos servem para explicar pontos úteis. O cinema brasileiro anda tão violento porque as pessoas possuem forte atração pela violência.

É claro que, se olharmos o geral do cinema nacional, não são tantos os filmes que sejam violentos ou retratem essa realidade do País. O que é curioso é que, aparentemente, apenas eles fazem realmente sucesso - dentro e fora do Brasil.

Sempre temática dos filmes brasileiros, a miséria, a pobreza e a vida das pessoas simples foi enredo de histórias premiadas, como Central do Brasil. Na década de 90 e início dos anos 2000, pela primeira vez as produções nacionais passaram a repercurtir mundialmente. Começando com o filme cuja atriz era Fernanda Montenegro até chegar a Cidade de Deus.

City of God, como foi chamada a produção no exterior, é um marco para o nosso cinema. Embora não tenha ganhado o Oscar, foi o primeiro filme a concorrer em 4 categorias, sendo uma delas a de melhor diretor, para Fernando Meirelles. Infelizmente, a premiação estadunidense dificilmente entrega estatuetas a concorrentes do terceiro mundo, mas, de toda forma, o filme ganhou projeção internacional.

O sucesso de Cidade de Deus foi tamanho que abriu espaço para outros filmes que mostrassem a mesma realidade violenta das favelas do Rio de Janeiro. Tropa de Elite é o exemplo mais recente, mas também houve Cidade dos Homens e muitos outros.

É bem verdade que nem todos os filmes tratam apenas da violência dentro da favela. Outro longa muito premiado do País é o documentário Ônibus 174, que conta a história do famosos sequestro da linha de ônibus 174 no Rio de Janeiro, em 2002. A diferença é que, no documentário, o diretor não tentou mostrar apenas a violência crua carioca, mas humanizou o próprio sequestrador, fazendo o espectador ver que ele tinha um motivo para cometer a atrocidade que cometeu; que ele não fora criado em "berço esplêndido", por assim se dizer.

Seja como for, pelo motivo que tiver, a verdade é que a violência nas favelas brasileiras, principalmente nas cariocas, vende. E vende muito bem. Por mais difícil que seja aceitar isso, o brasileiro deve encarar como sendo sua realidade. É isso que vendemos para o exterior porque é um pouco disso que somos: um país violento, pobre e extremamente desigual.

Sucesso da Tropa

Atualmente alcançar o sucesso de bilheteria e de boas críticas é um desafio cada vez maior para os diretores, produtoras e seus filmes. O mais recente filme do diretor José Padilha virou um fenômeno não apenas pelas críticas e o sucesso nos cinemas, mas também por ser o filme número um nas vendagens dos camelôs.

É com certa facilidade que podemos dizer que Tropa de Elite (2007) nasceu polêmico. Primeiro por se tratar de um assunto muito delicado: violência. Entretanto, não é qualquer violência, mas a violência do Rio de Janeiro, principalmente a que vivemos no nosso dia-a-dia; uma brincadeira de polícia e ladrão potencializada e muito mais complexa.

Dirigido por José Padilha, estreante na ficção e responsável pelo sensacional documentário Ônibus 174 (2002), Tropa de Elite se passa em 1997, pouco antes da visita do Papa João Paulo II ao Rio de Janeiro. Diferente de outros filmes, como Cidade de Deus (2002), em que os personagens principais são os bandidos, a narrativa do mais recente trabalho de Padilha desenvolve-se em cima da polícia carioca. O diretor não vem para mostrar o dia-a-dia do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), mas sim para contar a história do capitão Nascimento (Wagner Moura). Nascimento está cansado do trabalho e acredita que sua nova missão, a de proteger o Papa em sua vinda, é estúpida. Enquanto lida com seus problemas, ele procura um substituto que pode estar nas figuras dos aspirantes Neto e Matias. O primeiro se destaca pela coragem, o segundo pela inteligência e ambos pela honestidade. Se pudesse reunir todas essas qualidades num só homem, o capitão já teria achado o seu candidato.

Um dos principais objetivos de Padilha era fazer com que as pessoas debatessem sobre o filme. Assim como em Ônibus 174, Tropa de Elite seria um documentário, no entanto, os policias entrevistados estavam receosos em mostrarem suas caras ao mundo e sofrerem as conseqüências entre a própria polícia e também o tráfico. Mesmo assim, o filme não deixou de ser um documentário, foram feitos cerca de dois anos de investigações em conjunto com o BOPE, psiquiatras da PM, ex-traficantes e diversos policiais. Os próprios atores passaram por duros treinamentos para a execução final e tão realista que o filme nos traz.

A questão e o discurso do filme acabam sendo ofuscados pelo drama relacionado aos personagens, especificamente do capitão Nascimento. Alguns espectadores preocupam-se mais com desenrolar da história do que a crítica que envolve um filme milimetricamente pensado. Padilha nos mostra, como resultado do descaso do governo, a corrupção em suas diversas formas dentro da própria polícia militar. Assim como em Ônibus 174, o policial do Rio de Janeira é mal preparado, mal armado e não possui a auto-estima necessária, mas em contraponto temos o BOPE, altamente treinado, armado e agindo através da extrema violência.

O segundo ponto polêmico gira em torno da pirataria. Tropa de Elite tornou-se um dos filmes mais comentados antes mesmo de sua estreia nas telonas, o lançamento “da perna de pau” ocorreu dois meses antes do oficial. O DVD pirata podia, e ainda pode, ser encontrado em qualquer camelô que gostaria de estourar em vendas. Segundo dados do Datafolha, mais de um milhão de pessoas já haviam assistido ao filme antecipadamente, sem contar o número de downloads ilegais realizados.

O que nos resta saber é se Tropa de Elite alcançou tamanho sucesso, e consequentemente popularidade, devido sua brilhante execução, ou ganhou tamanha projeção através das vendas antecipadas e ilegais. Afinal, quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?

Por Obséquio

Bia caso fique confusa com tantas postagens minhas o meu texto para avaliação esta em Documentario.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Carlota Joaquinha - Trailer

Carlota Joaquina, Princesa do Brasil.




7 de março, de 1808, a esquadra de D. João VI chega à Baia de Guanabara. Pressionado pela Inglaterra e por medo do avanço das tropas napoleônicas, a família real faz, então, a transferência da corte para o Brasil. Uma viagem que durou quase um ano, em que navios se dispersaram pelo mau tempo e muitos pertences foram esquecidos em Portugal graças a desajeitada e confusa decisão da partida, cerca de 15 mil pessoas se instalaram no Rio de Janeiro durante 13 anos.
Com direção da estreante Carla Camurati e contando no elenco com atores globais como Marieta Severo (Carlota Joaquina) e Marco Nanini (D. João VI), o filme é uma sátira de chegada da corte portuguesa ao país, com humor típico das chanchadas da época que faziam tanto sucesso. Apesar do pouco orçamento para realização do filme, há uma compensação pela parte criativa em explorar os estereótipos de Carlota em suas atrapalhadas na Corte e seus inúmeros amantes juntamente com a falta de preparo de D. João para assumir o trono.
D. João VI e Carlota assumiram o trono em Portugal após a morte de D. José em 1777 e a declaração de insanidade de sua esposa, D. Maria I em 1792. Nessa mesma época, na França, Napoleão Bonaparte começava sua expansionista sobre o Velho Mundo. As conseqüências da Revolução Francesa e o medo do rápido avanço das tropas napoleônicas, D. João VI resolve fugir para sua principal colônia, o Brasil.
A chegada ao Brasil e a instalação no país foi bastante conturbada. Sem o menor pudor e preocupação com a população que habitava a cidade, casas foram requisitadas pela cora portuguesa que colocava cartazes com a iniciais P.R. (casa requisitada pelo Príncipe Regente). D. João VI não tinha muita personalidade política, o que fazia com que fosse incapaz de tomar decisões políticas importantes, sendo alvo constantemente de piadas entre o povo brasileiro. Carlota Joaquina, por sua vez, vez jus a fama de ter seus desejos sexuais insaciáveis. Com muitos amantes, teve 9 filhos, dos quais dizia ser 5 de D. João VI e os outros 4 de amantes quaisquer.
Por outro lado, a chegada da Corte trouxe alguns avanços para o país que estava bastante desgastado com a crise do antigo sistema colonial. O Brasil começava de certa forma a dar seus primeiros passos de uma autonomia econômica, principalmente com a abertura dos portos e a fundação do Banco do Brasil.
Quando as cortes em Portugal conseguiram se livrar das ameaças de Napoleão Bonaparte, exigiram a volta da família real para o país. Em 1821, D. João VI deixa o Brasil e seu filho D. Pedro assume o país. Logo em 7 de janeiro de 1830, no palácio de Queluz, Carlota Joaquina morre. Muitas pessoas acreditam no suicídio.
Ainda assim, esses avanços não foram suficientes para dar uma fama melhor ao episódio da vinda da Corte Real para o país. Desta forma, o filme atinge seu objetivo de mostrar o descaso português em relação à sua principal colônia e como, definitivamente, nossos problemas sociais, econômicos e políticos tem origem desde essa época colonial.





"Cinema, Aspirinas e Urubus"

No fervilhão das produções na época da Retomada, alguns filmes se destacam em meio aos outros. É o caso de “Cinema, Aspirinas e Urubus” (Brasil, 2005), que se afasta da espetacularização do modelo de cinema norte-americano e encanta com simplicidade.
Marcelo Gomes consegue acertar na dose e apresentar uma narrativa com recursos extremamente simples que cativam a atenção de quem assiste. A sensibilidade e desenvoltura com que o diretor pernambucano constrói a obra mostram que a qualidade cinematográfica não se limita a São Paulo e Rio de Janeiro; ainda que as metrópoles sejam celeiros de grandes produções, “Cinema, Aspirinas e Urubus” também ganha seu espaço.
O filme narra a viagem de um alemão pelo interior nordestino vendendo aspirinas pelos vilarejos simples e pobres. Em seu caminho pelas secas estradas, o alemão, Johann, é extremamente solícito e não recusa carona a ninguém que encontra pelo caminho. Entre as figuras sertanejas está Ranulfo, que acompanha Johann por todo o desenrolar da obra.
Em 1942, período que o filme perpassa, o governo brasileiro se sente pressionado pelos Estados Unidos e, em agosto, Getúlio Vargas declara guerra contra os alemães e italianos.
Ainda que a Segunda Guerra Mundial e a miséria nordestina sejam parte do plano de fundo, o filme surpreende pois mostra isso com sutileza, sem exageros dramáticos. A obra explora as relações humanas da dupla, sem pré conceitos sobre as personalidades de cada um.
Nesse sentido, o contexto de guerra serve ainda mais para esboças as relações humanas em tmepos difíceis e o quanto a guerra afeta a vida de todos, mesmo estando distantes dela. Uma cena que retrata fortemente as relações em época de guerra, sem perder o bom-humor, é no momento em que os dois personagens fingem estarem lutando caso se encontrassem na guerra, em lados opostos.
O bom humor, confiança e caridade que Johann oferece às pessoas quebra qualquer antipatia esperada por um alemão em tempos de guerra. O nordestino Ranulfo se mostra o oposto, está sempre desconfiado e não demonstra qualquer tipo de caridade durante a viagem. Embora sejam muito diferentes, ambos possuem algo em comum: estão fugindo de algo; Johann da guerra e Ranulfo da seca. As diferenças entre os personagens provoca curiosidade e uma sutil admiração mútua; enquanto o alemão comemora a distância da guerra, o nordestino almeja o trabalho na empresa da aspirina.
Um momento forte do filme é narrado na cena em que Johann está com febre por causa da picada de cobra e Ranulfo começa a contar sobre a trajetória d emuitos nordestinos; num monólogo, o sertanejo descreve uma suposta jornada em que ele teria tentado “ganhar a vida” na capital e, sob o fracasso da tentativa teria voltado para a seca do sertão. Essa cena é repleta de sensibilidade e consegue emocionar, mostrando a esperança e sonho de muitos nordestinos.
Dessa cumplicidade apresentada pelos personagens, Johann afasta a solidão do emprego – notada já no início do filme através das ações cotidianas repetitivas, sem diálogos e até, de certa forma, desinteressantes e cansativas – e Ranulfo aprende a ser um vendedor de aspirinas – aprende a dirigir e a projetar os filmes de propagandas pelos quais as pessoas se encantam e acabam adquirindo o produto mesmo sem ter necessidade.
Com a entrada do Brasil à guerra, muitas empresas são fechadas. Entre os afetados está o alemão Johann, que recebe uma carta avisando que deve voltar à Alemanha ou se dirigir ao campo de concentração em São Paulo. Como o território nordestino era alvo de uma instalação de bases norte-americanas,a única saída era fugir para a Amazônia, território “esquecido” e aidna pouco habitado.
Se o diretor consegue acertar na dose com uma narrativa simples e personagens espontâneos que parecem muitos reais, fazendo nos esquecermos de que se trata de uma montagem cinematográfica, o trabalho fotográfico de Mauro Pinheiro também deve ser ressaltado. A luz estourada no início do filme nos dá proximidade ao sertão, causando uma sensação de calor e cansaço, chegando até a dar mais lentidão, intencionamente, à narrativa. Os quadros que focam os personagens também são bem construídos. Apesar de serem simples- o que transite, novamente, um ar de naturalidade-, a proximidade com que os protagonistas são, em certos momentos, enquadrados enfatizam o suor escorrendo nos rostos dos viagentes e acaba nos convencendo da ‘realidade’ da narrativa.